Elita Pereira: exemplo de mulher que ocupa hoje profissão tipicamente masculinaQue
a mulher não é mais o sexo frágil, a grande maioria já não tem dúvida.
Elas vêm conquistando, cada vez mais, seu espaço na sociedade. Mas,
diante de tantos avanços, ainda é possível identificar, no Dia
Internacional da Mulher, uma série de desafios, que inclui a busca por
respeito, autonomia, direitos, igualdade.
Para o sociólogo Aécio
Cândido, um dos principais obstáculos enfrentados pelas mulheres
atualmente diz respeito à própria formação de movimentos sociais que
buscam a garantia de direitos. "Parte desses grupos, fechados, passa a
se comportar como guetos, há um certo racionalismo, um paradoxo para a
classe", argumenta.
Ainda segundo o especialista, as conquistas
alcançadas pelo sexo feminino nos últimos tempos são resultados, além do
esforço das próprias mulheres, dos avanços tecnológicos que permitiram
às esposas, mães de família, se desvincular de atividades antes
inevitáveis:
"Há uma crítica exagerada à ciência, mas vejam só,
praticamente tudo que as mulheres conquistaram foram a partir das
mudanças tecnológicas, do surgimento de equipamentos que facilitaram a
vida delas, liberando-as para pensarem, reivindicarem", defende Aécio
Cândido.
Na visão da professora Telma Gurgel, pesquisadora do Núcleo
de Estudos sobre a Mulher da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (NEM/Uern) e militante feminista, o desafio principal da mulher na
sociedade continua sendo a busca pela igualdade, em diversos aspectos.
"Conquistamos,
sim, demandas históricas do feminismo, como direito à educação, ao
trabalho, divórcio, também do ponto de vista da liberdade sexual, mas
são conquistas que não significam necessariamente igualdade. Continuamos
presenciando uma divisão sexual no trabalho, com distinção de salários e
funções, por exemplo", aponta Telma Gurgel.
A ineficiência de
políticas públicas voltadas para as mulheres também é um obstáculo a ser
superado, conforme argumenta Telma Gurgel. "Hoje, temos políticas
incipientes, fragmentadas. Para reverter esse quadro, de forma geral, é
preciso promover mudanças na base estrutural da sociedade", opina.
Mulheres se destacam em profissões tipicamente masculinas
Hoje,
as mulheres vêm se destacando e optando cada vez mais por profissões
antes tipicamente masculinas. É o caso, por exemplo, da eletricista de
auto Elita Pereira, que há nove anos decidiu abandonar a vida de
lavadeira para se dedicar a um sonho.
Sem que ninguém soubesse, Elita
participou de quatro cursos profissionalizantes no Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (Senac) e rapidamente conseguiu um emprego na
área. Hoje ela é uma das eletricistas mais solicitadas na oficina em que
atua, no bairro Santo Antônio. "A mulher tem o direito de fazer o que
gosta, se identifica", relata.
Aos 41 anos, mãe e avó, Elita Pereira
confessa que o preconceito ainda está presente diariamente em sua
profissão, mas que já aprendeu a lidar com situações embaraçosas. "É
hoje o meu principal desafio. Alguns clientes questionam minha
sexualidade ao meu patrão, ficam em dúvida sobre a minha competência.
Fico triste, até desanimada às vezes, mas aprendi a enfrentar esse
preconceito", conta.
Até mesmo na família o preconceito é evidente.
Tanto que o primeiro marido de Elita até hoje não aceitou o papel que a
mulher exerce. "A gente se separou por conta disso. Há três anos estou
casada novamente. O meu atual marido me conheceu assim e é preciso
aceitar. Sou muito feliz aqui, não me vejo fazendo outra coisa", diz,
acrescentando que pretende investir cada vez mais na área.